terça-feira, 30 de novembro de 2010

Labore Invictum

Sousa é um município no interior do estado da Paraíba que fica a 430km/7 horas da capital, João Pessoa, e está bem próxima do Ceará. A cidade é pequena e conserva o clima hospitaleiro, humilde, típico de comunidades pequenas onde as pessoas praticamente todas se conhecem.



A ida a um município tão "caseiro" marcou nossa viagem e fez dela uma viagem especial, foi a primeira viagem com a nova formação... Apesar da ausência do Klaus (baixo), devido a compromissos, ele não deixou de estar presente. E claro não podemos deixar de falar dos cancelamentos dos shows pelo nordeste por falta de estrutura nossa, dentre elas duas em dois festivais dos quais já tocamos, e estavamos muitos empolgados em tocar novamente, o Festival Mundo e o Festival DoSol. Foi uma decisão difícil e toda a energia que iríamos pôr nessas apresentações vão ser dirigidas ao novo material que estamos produzindo e que vem exigindo registro, o que queremos fazer o mais rápido possível. E claro, o que mais queremos é levar esse material para essas cidades e outras mais.

Dessa vez, nossa ida só foi possível com o apoio da Element Skate, que através do programa Advocate do qual fazemos parte, nos proveu estrutura para ir à Sousa e assim tocar no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) no Sábado e Domingo, 26 e 27 de novembro respectivamente. Devido a mudanças de programação do CCBNB fizemos somente o sábado, o que nos deu o domingo livre.



O nosso amigo de longas datas Diego Maia, amigo de bem antes do fóssil se juntar nesses que somos hoje e até sermos do fóssil, emprestou sua câmera fotográfica, o que possibilitou um belo registro de por parte de nosso guitarrista Vítor Colares.

Nossa viagem começou cedo na Sexta-feira, quando partirmos as 8 da manhã para Guarulhos tomar aquela confortável aeronave da GOL. O vôo com escala na Cidade Maravilhosa e depois rumo a João Pessoa partia quinze pras 11... 10h45min. Chegando lá por volta das 15h (sem a "hora nova", a hora de verão) sem tempo para dar uma volta em João Pessoa, direto pra rodoviária adquirir as passagens para o destino final, saímos da capital paraibana as 17h e só chegamos em Sousa por volta de uma da manhã e mesmo tendo passado o dia inteiro dormindo e acordando nas poltronas, logo depois estavam todos em seus sonhos.



O Sábado amanheceu quente e cedo todo mundo estava de pé, demos uma volta pela cidade e depois fomos procurar um canto para almoçar. Fomos encontrados pelo Emerson, produtor responsável pela gente, marcamos três e meia da tarde a passagem de som, que terminou por atrasar um pouco por conta de uma falta de energia que logo passou.



Na passagem de som, tudo limpeza! Encontramos o Jofran, um dos diretores culturais do CCBNB, e logo depois estavamos passando o som satisfatoriamente e rápido (é assim que deve ser) e cada vez que conversavamos com cada uma das pessoas da cidade e tal, íamos ouvindo cada vez mais o sotaque e a cultura que tanto crescemos rodeados. De certa forma é uma visita às raízes que nunca morrem e que sempre ficam respirando e nos realimentando.

- Nos tempos de hoje, chega a dar medo fazer qualquer tipo de citação a alguma região do Brasil. E sempre nos perguntamos: Como é que pode? Depois de tudo que nós, seres humanos, já passamos agora ter que aguentar isso?! É foda!

Continuemos... O show foi massa, o BNB de Sousa tem uma estrutura boa mesmo. Comparando aos outros dois, o espaço é maior, o palco é mais legal e o som é melhor. Fizemos o show para metade de cadeiras vazias e outra metade que mudou de lugar quando começamos, uns vieram pra perto outros foram pra longe e assistiu à apresentação. Nós tocamos o-atual-sexteto-setlist-titular, que vai encabeçar o próximo disco com mais umas outras - Esmeralda, Secesso, Aéropostale, Missa Nova, Trip-Charme & Marrakesh



Sousa é famosa internacionalmente pelo Vale dos Dinossauros, um enorme sítio arqueológico localizado nos arredores da cidade: Pegadas fossilizadas, marcas de gota de chuva petrificada, vegetação primitiva, partes de ossadas de animais pré-históricos e material arqueológico como desenhos rupestres feitos por humanos primitivos. Talvez bastasse dizer que o sítio de Sousa representa mais de 53% do material arqueológico da Ámerica Latina. E claro que nos sentiriamos em casa, afinal fósseis... "tá tudo em casa!" como disse o Sr. Robson Araujo Marques ou O Velho do Rio, único guardião desse patrimônio mundial praticamente ignorado pelo Brasil. Por vários motivos foi um pequeno reencontro com nossa raiz e cultura nordestina, tão forte e tão presente na vida de cada um de nós do fóssil que somos nascidos, fomos criados e crescidos lá. Aquela pequena-gostosa-nostalgia, fraternal, de panela, como aquele baião de dois com queijo, misto quente de rodoviária e o descampado do sertão.



- O estado do Sítio Arqueológico foi algo que nos deixou impressionados, está completamente abandonado pelo Governo Federal: As pontes para visitação estão balançando, avisando que vão cair em breve, roubaram algumas pegadas de lá (acredita?), grudaram chiclete em outras (isso mesmo que você leu), recadinhos de liquid-paper e tudo mais. O Sr. Robson não tem como cuidar disso tudo sozinho, ele faz o que pode, com amor e fé, acreditando (como nós mesmos ouvimos ele dizer) que "próximo ano o Governo vai ajudar". Uma área tão importante, como provas da história do planeta terra ser esquecida e 'lembrada' por uma pessoa apenas, o Sr. Robson, que mantém como pode a história mundial que faz parte da história de sua familia, sendo seu avô o descobridor das pegadas.

Um lugar tão distante de nós...



Aliás, um lugar sempre distante de nós, uma história de milhões de anos, no interior de um estado que traz a resistência e a honra escrita a sangue e luto em sua bandeira, em meio a um silêncio e barulho que nunca mais se ouviu aqui na cidade-grande e que também não deveria ser esquecido.

O aeroporto de João Pessoa é massa, pequenino, simples, tropical, nós ficamos nove horas lá Segunda-feira (risos). A volta foi a mesma coisa, pegamos o vôo com escala no Rio da Janeiro e na chegada aqui, em São Paulo, fomos trazidos até casa pelo amigo João do Are You God? e sua Kombi.



- "E é?"









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Texto por Rodrigo Colares e Vitor Colares
Fotos por Vitor Colares